Registro de duas cartas

Antonio Chapéu

 

Primeiro, a Carta de Martha Hite Watts:

“Cheguei a Piracicaba em 19 de maio de 1881. O nome antigo da cidade era ‘Constituição’, ficando às margens do rio e dizem ter cem anos de idade. O nome é indígena e significa lugar onde o peixe pára. Deve ser assim chamada em virtude de uma considerável queda d’água que não deixa os peixes prosseguirem rio acima. Esta cidade é edificada no cume e nas laterais de uma colina. O número de habitantes da cidade é algo entre cinco e oito mil pessoas. A província corresponde ao nosso estado e a municipalidade ao nosso condado e, assim sendo, a sede do governo municipal aqui é a Câmara municipal, que consiste em presidente, secretário, porteiro e nove membros. Esta concede licenças, julga criminosos e guarda os direitos das pessoas da municipalidade. Também há uma força policial, que creio seja apontada por uma autoridade superior…

Quase todas as casas antigas são de barro. Muitas delas não possuem assoalho… Algumas não possuem nem mesmo uma tranca na porta. No rio, as lavadeiras lavam as roupas batendo-as nas rochas e secando-as ao sol. Quando as roupas voltam para casa, não possuem mais nenhum botão”.

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RESPOSTA

E a minha carta para Marta Watts:

“Prezada Martha Watts.

Escrevo esta carta para trazer notícias de nossa querida cidade de Piracicaba. Não são notícias alvissareiras. O tempo passou e com ele chegou o progresso. As casas que, em sua época, eram quase todas de barro, deram lugar a vários edifícios altos, com dez, quinze e até vinte andares.

A cidade cresceu e esse progresso, que tem fome insaciável, vem se alimentado de vários lugares que eram o encanto da nossa Noiva da Colina. O imponente Teatro Santo Estevão foi derrubado para dar lugar à Praça José Bonifácio. No lugar do vistoso Hotel Central, atualmente habita um prédio de estacionamento para carros. Nem a primeira Santa Casa da cidade, que ficava ao lado da praça, existe mais…

E a senhora também deve se lembrar do lugar onde funcionou a segunda Central Hidrelétrica do Brasil, usina construída pelo saudoso Luís de Queiroz, hoje conhecida como Fábrica da Boyes. Por conta de interesses financeiros, estão querendo construir naquele lugar, quatro altas torres para empreendimento imobiliário. Você acredita?

A boa notícia é que sua escola continua firme e em pé. Pelas mãos do professor Almir Maia, virou Centro Cultural que leva seu nome, em sua homenagem, mesmo a Unimep não vivendo o seu melhor momento financeiro.

A vida por aqui anda difícil, Martha.

De onde estiver, olhe por nós e por nossa cidade”.

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